Nordeste: 90 anos de esquecimento

                               Talvez você já tenha ouvido falar a expressão: seca do setenta (70)

Foto:Reprodução dos flagelados/internet 

Uma breve história antes de 1932

Em 1877, o Brasil, mais especificamente a região do Nordeste, passou pelo seu mais devastador episodio de seca.

Foram 3 anos sem um pingo de chuva. As águas secaram, a vegetação morreu, os animais morreram e logo as pessoas começaram a morrer também. Algumas família ficaram para morrer na seca, outras decidiram fugir da sede e da fome. 

Indo parar nas capitais, nas grandes cidades e até na Amazônia. Essas pessoas que buscavam refúgios ficaram conhecidas como Flagelados ou Retirantes. Mas ao encontrar água e comida em outros lugares, o que esses grupos de viajantes encontraram eram: preconceitos e até em alguns casos  chumbo (tiros).

Mais de 500 mil pessoas morreram de sede e de fome naqueles 3 anos, em todo o Nordeste do Brasil. Cerca de 5% da população brasileira (que hoje seria equivalente a 10 milhões de pessoas).

Por mais triste que seja esse pequeno trecho acima, isso foi apenas o começo.

Além da falta de chuvas, corrupção, negligencias por parte das autoridades e decisões errados dos governos, juntou com vacina sem eficaz contra a Variola, Tornando o pior cenário  possível para o povo nordestino.

Enquanto o nordestino implorava por água e comida para não morrer, o restante do país ironizava a situação, falando que era tudo mentira o que estava acontecendo no nordeste.

Logo surgiu o preconceito do restante do país com os nordestinos e se pendura até os dias de hoje, mesmo após mais de 145 anos.

ALGUNS REGISTROS DA ÉPOCA

Vendo toda aquele sofrimento do povo no nordeste e o governo federal de braços cruzados e o governo estadual, colocando a população dentro de Campo de concentração para morrer de fome e sede, um fotografo na cidade de Fortaleza, decidiu tirar em seu estúdio, fotos dos flagelados e vender como cartões postais com poemas sobre a seca e tentar sensibilizar outros estados, na esperança de vim alguma ajuda para aquele povo.





                         Foto: últimos sobreviventes de uma família de 16 pessoas

Agrande seca havia terminado, porém deixou grandes sequelas, cicatrizes severas no povo nordestino. Não estou falando apenas nos mais de 500 mil mortos. A grande seca mudou a forma de como o povo pensa, principalmente as pessoas das capitais que começaram a enxergar as pessoas de fora dela diferente.

 

                                                                                                   Foto: Fortaleza 1932


FORTALEZA E SEU DESENVOLVIMENTO URBANO

Em 1915, Fortaleza estava começava uma importante urbanização da capital. Porém nesse mesmo ano, o estado do Ceará passa por outro período de seca. Porém a história logo se repetiria, os flagelados, logo começaram a chegar na cidade. Vindos de longe, maltrapilhos, morrendo de fome, morrendo de sede. Buscando nada mais duque sobreviver.

Foto:Flagelados em Fortaleza (capital)

Com a chegada dos flagelados, os comerciantes, policiais e até mesmo os políticos, começaram a dizer que aquela gente " estavam poluindo a cidade, enfeiando as ruas ".

Além disso, alguns furtos, saques a armazéns, assaltos a estradas estavam acontecendo. De fato essas pessoas estavam no limite da sobrevivência, morrer de fome, de sede ou ver sua família morrendo de fome e sede, um por um. 

GOVERNO RESOLVE SOLUCIONAR O PROBLEMA

O governo do estado resolve construir campos de concentração em Alargadiço ( região a oste da capital do Ceará), pra lá enviaram todos os flagelados que chegaram e que iam chegando. Uma construção secada com arame farpado e guardas armados.


                                              Foto: Campo de concentração do Ceará

8 mil pessoas estavam juntas no mesmo lugar, o campo de concentração ficou conhecido como: O Curral de Gente. As pessoas eram tratadas literalmente como gado ou pior. Morriam aos montes, se contaminavam com doenças. Comiam apenas uma vez por dia e muitas vezes nem tinha direito a comer. A higiene era precária, a situação só tinha começado a piorar. Todos tinham as cabeças raspadas, pra dificultar a saída ou até mesmo para fácil identificação, os soldados usavam a desculpa que era por conta dos piolhos. 

No final daquele ano, o campo foi desfeito e as pessoas foram dispersas e mandadas pra longe da capital.

17 anos se passaram e nenhuma seca severa foi registrada.

A SECA DE 1932, A GRANDE SECA

Assim que a falta de chuva volta a assombrar o nordeste, o governo do Ceará, nem esperam os flagelados chegarem correndo da fome e da sede. O campo de Alagadiço volta a funcionar e vários outros são preparados.

             Foto: Trecho do Jornal com a quantidade de pessoas em cada campo de concentração

Todos os campos de concentração ou currais humanos foram construídos estrategicamente, para receber os flagelados. Muitos eram perto das ferrovias, para facilitar a captura e também o desembarque. 

                    Foto: campo de concentração da cidade de Patú, recebendo os flagelados

CAPTURA E ALIMENTOS

Por diversas vezes os flagelados eram capturados no meio das estradas, e já eram recolhidos para os campos mais próximos. Vale lembrar que todos os Currais humanos, eram cercados por arame farpado e soldados armados de dia a noite.

As pessoas capturadas, tinha o direito de comer uma vez por dia, comiam: Farinha, Rapadura, Carne seca e bebiam café. Os outros alimentos que deveriam ajudar na nutrição dessas pessoas,eram desviados. Existiam um esquema de entre os políticos e os encarregados dos currais, que roubavam e vendiam as comidas. 

                                       Foto: Crianças capturadas juntas com os adultos

Amontoados como gado de maneira improvisada e agora em maior numero, as condições daquelas pessoas eram as piores possíveis. Higiene precária, as doenças se espalhando sem barreiras, os números de vítimas diárias passavam de centenas todos os dias.

Os mortos eram enterrados em valas comuns, já que não se tinham tempo em carva corvas individuais. Os adultos eram carregados em redes (se tivessem, caso contrario eram carregados pendurados em um pau, feito um animal), as crianças eram colocadas dentro de um saco grande de estopa.

Segundo o Farmacêutico Rodolpho Theofilo:

" Vi um alguns homens entrando no galpão com um saco grande de estopa, fiquei observando o que eles iam fazer. Eles passavam no meio das pessoas e saiam apanhando as crianças mortas e jogando dentro do saco, nunca me esquecerei daquela cena horrível "

                               Foto: Recorte de Jornal da época com números flagelados 

Onde eram enterrados, se notavam de longe, pois a quantidade de  urubus eram grandes e o mau cheiro era insuportável. 

Muitos corpos foram jogados a beira da ferrovia, já que não se tinham tempo para enterra-los.

Escurecimento de vista, passamento ou desmaio, já eram carregados no meio do povo e jogados ainda vivos dentro das valas pelos soldados.

                                                  Foto: corpos jogados ao lado da ferrovia

Mesmo após 90 anos da ultima grande seca no nordeste, ainda existem preconceitos pelo país com o povo nordestino.

Um povo valente que sobreviveu á maior seca que se tem na história do mundo, que povo que ajudou a construir o coração do Brasil (São Paulo) e tantas outras cidades do nosso país. Que tem o sangue quente nas veias. 

Passando por tanto sofrimento, o povo nordestino é o povo mais acolhedor do país, que divide um " um prato de comer com quem chegar na sua casa " , tenho orgulho de ser nordestino, tenho orgulho do meu sotaque arretado. Orgulho dos nossos litorais e nossas belezas naturais, que só existem aqui .

Foi daqui que saíram: O Rei do Cangaço e o Rei do Baião, os melhores humoristas, os melhores artistas e músicos que esse país já viu.


Como dizia Lampião:

"O nordeste é lugar de cabra macho, sim senhor"

Compartilhem essa história, mostre ao país que somos mais forte que qualquer preconceito.

Sigam no Instagram:  Surubim na mídia (click aqui)

Postar um comentário

0 Comentários